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segunda-feira, maio 28

Operação limpeza

Conhece o programa alimentar que, ao promover uma faxina interna no seu organismo, blinda o sistema imune, aumenta o pique e deixa você mais bonita? Bem-vinda à dieta detox

Dieta desintoxicante
 Excesso de alimentos industrializados e com agrotóxicos, stress, poluição, medicamentos... A não ser que você viva num mosteiro budista, numa fazenda orgânica ou numa praia deserta, esses ingredientes devem fazer parte do seu cotidiano. Tantas agressões constantes sobrecarregam o organismo, que uma hora dá sinais de cansaço - insônia, inchaço, fadiga, dificuldade de digestão, falta de concentração e dores de cabeça são alguns deles. A solução - se você não puder ou quiser se mudar para longe da civilização - pode estar numa dieta. A detoxificação, ou simplesmente detox, é uma técnica apregoada pela nutrição funcional, linha que avalia sintomas e características do paciente e os relaciona a carência ou excesso de nutrientes. Seu objetivo é ajudar o organismo a se livrar mais facilmente de toxinas e outras substâncias não bem-vindas ao corpo. Dessa maneira, os diversos órgãos afetados conseguem se purificar e trabalhar melhor.

Não se pode confundir a detox com aqueles regimes restritivos que recomendam semanas à base de sopas ou chás. Essas maluquices, em casos extremos, podem até matar. "Dietas sem nutrientes essenciais provocam o efeito contrário ao desejado, pois reduzem a capacidade de expulsão de toxinas", afirma a nutricionista funcional Patrícia Davidson, do Rio de Janeiro, consultora de WH. Um programa de detox retira alimentos sabidamente alergênicos e todos os que sobrecarregam o sistema de limpeza do corpo. A lista inclui laticínios, glúten, aditivos, corantes, conservantes, açúcares, adoçantes, refi nados e álcool. "Também suprimimos a carne vermelha, pois ela muda o pH do sangue", diz a nutricionista funcional Mariana Strang, de São Paulo, que durante 21 dias passou por uma detoxificação e conta sua experiência na página 49. Afora as restrições, o plano prevê complementação de nutrientes que podem estar em falta no organismo e outros que melhoram a função do fígado, como vitaminas do complexo B, zinco e ferro. O objetivo é otimizar o trabalho desse órgão, que, ao lado dos rins e do intestino, é o principal envolvido no processo de limpeza do corpo.


Varre, varre, vassourinha

Seu organismo tem um mecanismo autolimpante.
Acompanhe o processo de digestão de uma coxinha e entenda a importância de cada órgão na faxina

1. A digestão dos carboidratos começa já na boca, com a ação de substâncias como a amilase salivar, que quebra o amido. No estômago, os alimentos são triturados e misturados. Ao chegar ao intestino delgado, termina a degradação e começa a absorção dos nutrientes.

2. As proteínas são digeridas no estômago e no intestino delgado, por meio das enzimas intestinais e pancreáticas. Elas produzem os aminoácidos que são levados ao fígado.

3. As gorduras começam a ser digeridas com as enzimas da boca (lipases linguais) e do estômago (lipases gástricas) e continuam com a secreção biliar. Elas são quebradas e formam os ácidos graxos e monoglicerídeos.

4. As gorduras são transportadas pelo sangue.
Ao chegar ao fígado, são reagrupadas em lipoproteínas, usadas no metabolismo e armazenadas no tecido adiposo (oi, culote!).

5. As fibras não são digeridas nem absorvidas.
Por isso são importantes na formação do bolo fecal no intestino.

6. Esse processo é o mesmo para todo alimento. Só muda o percentual de cada componente e, consequentemente, a quantidade de nutrientes absorvidos nas etapas. No caso dos alimentos trash, há grande quantidade de lipídeos e carboidratos que os torna altamente calóricos, elevando o colesterol e o acúmulo de tecido adiposo.

Sinal vermelho

Evite consumir os itens a seguir durante o programa

• Açúcar
todos, inclusive o mascavo e os adoçantes
• Leite e derivados
manteiga, margarina, queijo
• Trigo
em grão, farelo ou farinha.
Todos os alimentos que contenham glúten, a proteína do trigo, estão vetados, a exemplo de pães e bolos. Aveia também entra na lista
• Café
• Álcool
• Alimentos industrializados
caldos de carne, ervilha, milho... tudo que for enlatado é vetado. O atum pode entrar numa emergência
• Refinados
arroz branco, por exemplo
• Leite de soja
tofu também não é permitido
• Carne vermelha
• Frituras
• Shoyu


Sinal verde

• Frutas
de preferência naturais e da época (para saber quais são as da estação, acesse ceagesp.gov.br e clique em "produtos")
• Vegetais
frescos ou congelados, sobretudo os verde-escuros (brócolis, mostarda, rúcula, couve-manteiga, couve-de-bruxelas...)
• Arroz
integral, preto, vermelho, selvagem
• Quinoa e amaranto
• Feijão
carioca, feijão-preto, feijão-branco, lentilha, grão-de-bico e ervilha
• Mel
em pequenas quantidades
• Oleaginosas
noz, semente de abóbora e de girassol, amêndoa, castanhas-do-pará e de caju
• Temperos
sal, vinagre de maçã, azeite e todas as ervas naturais (a cúrcuma deixa o arroz amarelinho e é anti-inflamatória)
• Bebidas
água, água com limão, água de coco, chá verde e sucos naturais
• Carne de peixe e de frango orgânico

Caminho das pedras

Durante a detoxificação, o cardápio deve ser rico em alimentos frescos, aliados à ingestão de chás e sucos, que ajudam a hidratar e repor vitaminas e sais minerais. Folhas verdes e legumes como agrião, brócolis, couve-chinesa, couve-de-bruxelas, couve-flor, mostarda, nabo, rabanete, repolho, rúcula são ricos em enxofre orgânico, útil no processo de limpeza.

Também recomenda-se caprichar nos temperos como a cúrcuma, com propriedades antioxidantes, além de alho, cebola e alecrim. Frutas e generosas doses de água vão ajudar rins e intestinos a funcionarem melhor. O tempo de duração do regime depende da alimentação que o paciente vem seguindo, mas varia de uma a quatro semanas. As nutricionistas recomendam que, antes de sair tirando ingredientes do cardápio, é fundamental consultar-se com um profissional. Só ele é capaz de orientar a dieta adequada, especialmente por se tratar de um programa mais restritivo.

Não é fácil encarar o plano. Mas, se você superar a tentação e limar alguns de seus petiscos prediletos do dia a dia, o resultado promete ser animador. Um processo de detox melhora sono, concentração, memória e funcionamento intestinal. Ele reduz inchaço, olheiras, inflamações, celulite e dores articulares, musculares e de cabeça.

Quer mais? Prepare-se para uma tremenda sensação de bem-estar, pele mais clara e bonita e, de quebra, medidas mais enxutas. Isso porque, embora esse programa não vise emagrecimento, ao retirar do menu itens como frituras e gorduras saturadas a pessoa naturalmente perde peso. "Estudos científicos ainda relacionam a ingestão de toxinas ao aumento da prevalência de males como câncer, doenças autoimunes, diabetes, queda na fertilidade e problemas na tireoide", afirma Patrícia.

Detox para todos...

Quando se fala em detox, muita gente logo pensa nas festas de final de ano, época em que o consumo de comidas gordurosas e bebida alcoólica é maior. Mas deve-se levar em consideração que a alimentação cotidiana do brasileiro não anda lá muito rica em frutas, legumes e água, que vão trazer ao organismo os nutrientes necessários ao seu bom funcionamento.

Nosso cardápio é sabidamente rico em produtos refinados, industrializados e gorduras, além de carente em vitaminas. "Se levarmos ao pé da letra, praticamente todas as pessoas teriam de passar por um programa de desintoxicação de tempos em tempos", diz Patrícia.

Para a nutrição funcional, a detox é indicada como ponto de partida de uma reeducação alimentar àqueles que fazem uma dieta pobre em nutrientes ou até mesmo a quem considera ter uma alimentação saudável, mas consome muitos laticínios e farináceos, por exemplo.


...ou detox para poucos?


A detox está longe de ser consenso entre os especialistas:

"Não há estudos que comprovem sua utilidade", afirma Roberta Portugal Henriques, endocrinologista de São Paulo.

"Além disso, esses programas são frequentemente muito restritivos e não possuem valor nutricional ou calórico adequados, em especial para grupos específi cos, como crianças, adolescentes, idosos, gestantes e mulheres em fase de amamentação." Segundo Roberta, seguir uma dieta detox por poucos dias poderia fazer com que a pessoa se sentisse mais fraca, mas sem sofrer um déficit nutricional. Por mais de uma semana, ela precisaria repor vitaminas e minerais.

A linha contrária à detox defende que desintoxicar-se seja um hábito diário, feito por meio de uma alimentação saudável e atividades físicas regulares. Por alimentação saudável leia-se um cardápio rico em fibras (linhaça, aveia e cereais, além de arroz, massas e pães integrais) e pobre em gorduras saturadas. Também são fundamentais frutas, verduras e legumes, que possuem baixas calorias e muitas vitaminas, minerais, eletrólitos e água.

Deve-se, também, evitar álcool, cigarro e excessos de sal e açúcar.

"A pessoa só deve fazer uma desintoxicação se sente sintomas como azia e enjoo. Isso pode ser sinal de que o organismo precisa de um descanso", diz Ruth Clapauch, vice-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

É o seu caso? Inspire-se no diário a seguir e tome coragem. 


por Gabriela Cupani infográfico Erika Onodera