Pesquisas mostram que quem tem um animal de estimação gasta menos
com médicos, previne problemas cardíacos e se recupera melhor de
cirurgias
Foto: Getty Images
De tanto estudar o comportamento dos bichos, o
pesquisador americano-suíço Dennis Turner descobriu que a companhia
deles nos traz muito mais benefícios do que as alegrias
domésticas já conhecidas. "Eles podem ser o fator fundamental de cura
para doenças físicas e emocionais além de melhorar a auto-estima, o bom
humor e os relacionamentos", afirma. Turner dirige um centro de estudos
na Suíça que oferece cursos de terapia para psiquiatras,
psicoterapeutas, assistentes sociais, administradores de hospitais.
Confira a entrevista com o estudioso:
Como um bicho de estimação pode tornar a vida das pessoas mais
saudável?
Independentemente da cultura ou do status socioeconômico, ter um cão ou
um gato em casa é altamente benéfico. Os donos de animais estão entre
os que sobrevivem mais tempo após um ataque cardíaco, sofrem menos de
depressão, de solidão, de medo e de ansiedade. A presença deles estimula
a auto-estima, especialmente de crianças com problemas na escola, e
ajuda na reintegração de jovens desajustados, idosos e deficientes à
sociedade. O pré-requisito para isso, entretanto, é que sejam bem
cuidados e respeitados.
Existem dados que comprovem essa relação com a melhora na
saúde?
Pesquisas realizadas na Austrália e na Suíça mostraram que famílias que
possuem animais têm uma redução significativa com despesas médicas.
Essas pessoas também gastam menos com medicamentos. Muitos estudos
demonstram ainda que a presença deles em casa diminui a pressão
sanguínea, os níveis de colesterol e o estresse dos moradores. Quem tem
um cão também ganha com as caminhadas diárias, que auxiliam na prevenção
de problemas cardíacos e na recuperação de quem sofreu um infarto.
Há experiências de sucesso com pacientes em tratamento
psiquiátrico?
Sim. Doentes que não pronunciavam uma única palavra havia anos e não
respondiam aos métodos tradicionais de terapia têm se socializado por
meio do contato com animais. A simples presença deles funciona como um
quebra-gelo para o doente não comunicativo, por exemplo. Ele começa
direcionando um olhar fixo para o bicho. Algum tempo depois, passa a
tocá-lo. Nas consultas que se seguem, conversa somente com o animal.
Mais tarde, o terapeuta entra nessa conversa fazendo comentários sobre o
bicho e dirigindo o assunto para sentimentos humanos. A partir daí, o
terapeuta poderá ajudar o paciente a estabelecer uma relação com outras
pessoas.
A terapia com animais pode ser uma opção para os países em
desenvolvimento reduzirem os gastos com saúde pública?
Os programas que tratam portadores de deficiência física e mental,
crianças com dificuldades na escola, delinquentes juvenis, pessoas que
sofrem com a violência doméstica e presidiários estão entre os que muito
têm a ganhar, pois essa terapia não exige grandes investimentos. Além
disso, os governos podem fazer uma economia indireta de recursos
públicos ao investir em educação sobre a posse responsável de mascotes.
Isso aumenta o respeito das pessoas para com eles e diminui o número de
bichos abandonados. É melhor prevenir do que optar pelo sacrifício.
Além de nos manter mais saudáveis, que outros benefícios eles
nos trazem?
Alguns psicoterapeutas já prescrevem a aquisição de um animal de
companhia como parte de um programa de terapia familiar. Um cão ou um
gato pode unificar os membros em conflito, propiciando a todos um foco
comum, que freqüentemente tem início com diálogos sobre o animal e sobre
os cuidados que ele requer.
Por que as pessoas abandonam os animais? Na França e na Itália,
é comum ver famílias soltá-los nas ruas ao sair de férias. Nos Estados
Unidos e no Brasil, levam-se cães e gatos saudáveis para ser
sacrificados.
As pessoas não consideram os cuidados que um bicho requer - alimentação
adequada, consultas ao veterinário e carinho -, o que significa tempo,
dedicação e um certo investimento financeiro. Às vezes são cativadas
pela graciosidade de um filhote e não se dão conta de que ele crescerá
tornando-se, para alguns, menos atrativo. Também ocorre de ignorarem o
tempo de vida do animal - cerca de 12 anos para cães e 20 anos para
gatos - no momento em que decidem ter um. Outra razão é a mudança de
casa ou o desemprego repentino. Nesses casos, a melhor atitude seria
procurar uma pessoa que pudesse cuidar dele. É antiético abandonar o
animal à própria sorte. Ele passa por uma fase miserável de vida e morre
logo. É por isso que o aprendizado sobre o que os bichos podem
significar para nós e sobre o que nós significamos para eles é
extremamente importante.