Eles podem estar em qualquer lugar: na
chupeta, na banheira e nos brinquedos do seu pequeno. Saiba como
mantê-lo bem longe dos micróbios nocivos
A chupeta cai no chão e você corre para lavá-la e fer vêla. A mamadeira
encosta na parede e é esterilizada em seguida. O pai chega da rua louco
para pegar o pequeno, mas primeiro tem que tomar um banho e colocar uma
roupa limpa. Ih... A chupeta caiu de novo? Pois é, a maratona recomeça e
parece não ter fim. Toda mãe conhece muito bem essa rotina. E, com
certeza, já se perguntou se todos esses cuidados são mesmo necessários.
Será que os ambientes pelos quais circulamos normalmente são assim tão
contaminados por bicharocos que podem fazer mal ao bebê?
A resposta é sim e não. De fato, há milhares de monstrinhos espalhados
por aí. “Estamos cercados por micro-organismos, e muitos usam nosso
corpo como habitat”, afirma o infectologista Paulo Olzon, da
Universidade Federal de São Paulo. Segundo ele, a maioria desses germes é
inofensiva e alguns até ajudam o corpo a produzir vitaminas. Sério! Um
dos tipos da vitamina K, responsável pela coagulação sanguínea, por
exemplo, é sintetizado por bactérias no intestino.
Sem pânico
Em um adulto, esses hóspedes todos reunidos chegariam a formar uma
massa de 2 a 3 quilos de micróbios (entre vírus, bactérias, fungos e
protozoários), alojados na pele, no nariz, na garganta ou no aparelho
digestivo. Deu vontade de correr para o chuveiro mais próximo? Não
precisa. “Na verdade, esse aglomerado funciona como uma proteção.
Comparo com um ônibus: se o veículo está lotado, o ladrão tem mais
probabilidade de encontrar resistência do que se tivesse apenas um ou
dois passageiros a bordo”, explica o biomédico Roberto Martins
Figueiredo, de São Paulo, conhecido pelo quadro Dr. Bactéria, exibido no
programa Fantástico, da Rede Globo.
Com seu bebê não é diferente. Por isso, os especialistas são contra
exageros, como impedir que o pequeno tenha contato com o mundo exterior.
Gradualmente, é natural e saudável que a criança brinque com outras,
circule por vários ambientes e se esbalde em um tanque de areia. Essa
exposição é necessária para o desenvolvimento e o fortalecimento do
sistema imunológico dela. Além do mais, o contato com germes nem sempre é
sinônimo de doença. “Afinal, o corpo possui várias barreiras de
proteção, como a saliva e o ácido estomacal, que nocauteiam os intrusos
antes que eles causem algum dano”, explica o infectologista Marcos
Boulos, professor do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias
da Universidade de São Paulo.
Mas, fatalmente, de vez em quando uma das feras que habitam essa fauna
fará você correr para o consultório do pediatra porque seu filho
aparecerá com infecção de pele, diarreia, problemas respiratórios etc.
Os micróbios nocivos também são inúmeros e o que provocam depende de
onde eles se alojam. “Se for no duto lacrimal, pode haver conjuntivite;
no ouvido, otite; no pulmão, pneumonia; no trato urinário, infecção
urinária; e assim por diante”, afirma Boulos.
Zelo necessário
A existência dessa gangue do mal (veja o quadro) é uma boa razão para
não relaxar com a higiene. E quanto menor for seu filho, maiores devem
ser os cuidados. Até 8 meses Lavar as mãos antes de pegar a criança e de
manusear qualquer alimento ou objeto que será oferecido a ela é
imprescindível quando se trata de bebês muito novinhos. A recomendação
vale também para antes e depois da troca de fraldas, pois muitas
bactérias das fezes podem, por meio das suas mãos, ser levadas à boca do
pequeno ou à chupeta, causando doenças. “Colocar uma embalagem de
álcool em gel na entrada do quarto do recém-nascido é uma boa ideia.
Facilita essa higienização e insinua para as visitas que elas devem
tomar o mesmo cuidado”, sugere o toxicologista e pediatra Sérgio Graff,
diretor da Clínica Toxiclin, em São Paulo. Se o bebê tiver menos de 1
mês, o ideal mesmo é que os adultos, ao chegar da rua, troquem de roupa e
lavem as mãos e o rosto antes de tocar no pequeno, especialmente quem
trabalha na área de saúde e convive com germes mais perigosos e
resistentes.
Olho vivo também nos objetos que o bebê leva à boca, como chupetas,
mamadeiras, mordedores e brinquedos. Eles precisam ser higienizados toda
vez que caírem no chão, mesmo que seja o do quarto do bebê, ou entrarem
em contato com o banco ou o assoa lho do carro e as roupas sujas dos
adultos. “Primeiro, passeos em água. Em seguida, mergulhe-os em uma
solução de oito gotas de detergente para 1 litro de água morna”, ensina
Figueiredo. Depois, lave-os com água e detergente e enxágue com água
quente, fervendo-os, em seguida, de três a cinco minutos.
A partir de 8 meses
Depois que a criança começa a engatinhar, a vida fica mais fácil.
“Nessa fase, é inevitável que ela tenha mais contato com
micro-organismos que estão no chão”, diz o pediatra Alfredo Elias Gilio,
coordenador do Centro de Imunizações e da Clínica de Especialidades
Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A
partir daí, com as vacinas e a melhora da imunidade naturalmente
conferida pelo tempo, basta seguir os cuidados rotineiros de higiene,
como lavar mordedores, chupetas e brinquedos que são levados à boca de
duas a três vezes por dia, com água corrente e detergente. Repita o
cuidado também se caírem no chão. Em compensação, é preciso manter o
chão ainda mais limpo. Diariamente, aspire os cômodos por onde a criança
engatinha e limpe o piso com pano úmido. A partir de agora, circular
pela casa com os sapatos que vieram da rua é proibido, já que é na sola
do calçado que muitos micro-organismos perigosos são tra- esta gangue é
do mal cozidos para o ambiente doméstico. Os controles remotos e os
telefones também exigem atenção extra, pois os pequenos costumam
colocá-los na boca e eles carregam muitos micróbios. “Uma boa solução é
revesti-los com filme plástico, fixando bem as pontas”, diz Graff.
Em qualquer idade
Semanalmente, aspire o colchão e o travesseiro do seu filho e
coloque-os ao sol. Se houver histórico de alergias respiratórias na
família, use um aspirador com filtro de ar de alta eficácia, conhecido
como HEPA, facilmente encontrado em lojas de eletrodomésticos. Manter a
casa ventilada e todos os objetos bem secos é outra medida que ajuda a
prevenir contaminações. “A maioria dos germes gosta de ambientes úmidos e
abafados e não sobrevive muito tempo fora deles. É por ficarem ao ar
livre e sob o sol, inclusive, que os tanques de areia geralmente são
higienicamente seguros”, garante Olzon. Enxaguar a banheira da criança
com água quente e secá-la antes e depois do banho é outra medida que faz
parte da cartilha da mãe prevenida. Uma vez por semana, lave-a também
com sabão. “Se ela for usada por mais de um bebê, deve-se passar álcool
em toda a superfície diariamente”, recomenda Graff.
Em relação aos alimentos oferecidos ao filhote, todo cuidado é pouco.
Frutas, verduras e legumes devem ser lavados em água corrente e deixados
de molho em solução desinfetante (1 litro de água mais 1 colher de sopa
de água sanitária de boa procedência e sem cheiro por cinco minutos).
Enxágue novamente. E carnes e ovos não devem ser servidos crus ou
malpassados.
Outra recomendação importante é nunca, em idade nenhuma, beijar a
criança na boca nem compartilhar talheres com ela. “Muitos micróbios se
alojam na saliva e são transmitidos por ela, como herpes labial, cárie,
candidíase e até gastrite”, afirma Figueiredo. Por isso, nem pense em
colocar na boca a chupeta que caiu para limpá-la. Se não tiver como
higienizála, é melhor guardá-la e aguentar a choradeira.
Esta gangue é do mal
Conheça os principais micróbios que ameaçam a saúde do bebê e saiba
onde eles se alojam
Escherichia coli - Esconde-se no chão contaminado por fezes, como em
banheiros, e provoca diarreia. É transmitido por mãos e alimentos
infectados.
Salmonela - É um grupo de bactérias que vive em ambientes onde se
manipulam aves, carnes e ovos contaminados, como carrinhos de
supermercado e cozinha. Causa diarreia, vômito e febre. É transmitido
por alimentos que tenham fi cado em contato com a bactéria.
Helicobacter pylori - Habita a saliva, inclusive da mãe, e desencadeia
gastrite e úlcera. Transmissível pelo contato com a saliva contaminada
por meio de talheres, beijo etc.
Epstein-Barr - Também presente na saliva, provoca mononucleose. Cuidado
com beijos e talheres.
Herpes simplex
Outro que vive na saliva. Ele transmite herpes labial, que se manifesta
por meio de lesões nos lábios. O contágio pode acontecer pelo contato
direto com a saliva contaminada, com a lesão ou com a mão de alguém que a
tenha tocado.
Cândida albicans - Mais um que está na saliva. Provoca candidíase
labial, o famoso sapinho. A transmissão também ocorre pela exposicão à
saliva e a talheres contaminados.
Estreptococo - Faz parte de uma família grande e pode estar nas mãos de
quem manipula mamadeiras, chupetas, mordedores etc. Provoca faringite,
escarlatina, diarreia, vômitos e doenças graves, como meningite e
pneumonia. Um deles – o Estreptococos mutans – é o causador da cárie
dental.
Estafi lococo - Também forma um grupo com vários tipos. Fica escondido
na saliva e na pele e pode contaminar os objetos da criança durante a
manipulação. Desencadeia faringite, laringite, sinusite, vômito,
infecções urinária e de pele, às vezes com pus.
Pseudomona aeruginosa - Fica na terra, no ambiente e em mãos muito
sujas. Pode causar infecções respiratória, urinária e no sangue. Costuma
vir de carona em hortaliças infectadas.
Thais Szegö